23/03/2009

Luciene Amado. TRÊS POEMAS NO SILÊNCIO DA ALMA




Nestes poemas podemos ver três estados da alma da poetisa. No primeiro, ainda se vislumbra uma tentativa de fuga às angústias ou aos maus momentos e, sobrepondo-se, uma auto-crítica num desabafo em que ela mesmo diz não ser merecedora...

Nos dois poemas seguintes avalia-se a sua submissão ao destino, uma resignação própria da alma poeta e um profundo sentimento traduzido em medos do imprevisto
numa mistura de sorrisos e prantos mas compensados pela beleza da vida ou do belo que aprecia e a faz sonhar...
No fim, misturando as estrelas, a lua a saudade e os amores sem nenhuma revolta...
"porque um poeta nunca morre..."
Manoel Carlos


Apesar da dor sempre presente,
Do medo do imprevisto,
Das horas de angústia vividas,
Sempre encontro tempo para sorrir,
Para apreciar o belo
E até para sonhar.

A minha vida é alimentada
De recordações e saudades,
Saio do meu mundo cruel
Para entrar num outro
Onde só existem alegrias.
Esse é o meu mundo imaginário
A que sempre me refiro
Em quase todas as minhas poesias.
Não existe o espírito agressivo
E nem revolta dentro de mim
Pelos meus insucessos.
Só acho que não merecia
Um destino tão ruim.



EU NUNCA, EM MINHA VIDA,
OUVI ALGUÉM DIZER PRA MIM:
EU GOSTO TANTO, TANTO DE TI!
LANCEI-ME AOS MARES DO DESEJO,
AFOGUEI-ME EM MUITAS PAIXÕES
MAS NUNCA OUVI ALGUÉM ME DIZER
QUE EU ERA A ESTRELA E O SOL
QUE FALTAVA EM SUA VIDA.
O ACONTECER QUE CHEGA
E LOGO VAI QUERENDO FICAR.
DE REPENTE, TU SURGISTE.
E NO SILENCIO DE UMA NOITE
ME DISSESTE O QUE EU HÁ MUITO
QUERIA DE ALGUÉM OUVIR.
O PRESENTE TÃO SONHADO ME DEU.
FALASTE COM OS LÁBIOS,
COM OS BRAÇOS, COM AS MAOS.
E TODO O MEU CORPO TREMEU.
NUM BEIJO SEM COMEÇO E NEM FIM
EU DESCOBRI A TI E A MIM.
DO CÉU, UM CHOVER DE ESTRELAS,
FORMANDO UM LENÇOL DE PRATA
AFINAL CAIU SOBRE NÓS,
AGUÇANDO MEU LADO CIUMENTO.
E TU EM SUSSUROS ME DISSESTE:
EU GOSTO TANTO, TANTO DE TI.
UM BOTÃO DE ROSA, ABRIU-SE EM FLOR
E UMA FLOR ABRIU-SE EM AMOR.

____________________________________________




QUANDO EU MERGULHAR EM UM MUNDO
SOMBRIO, ESCURO E GELADO
E NAO ESTIVER USANDO CASACO DE LÃ OU DE PELE
E SIM UM PESADO MANTO DE MADEIRA.
QUE TEMPO SERÁ ESSE?
QUANDO DE MIM NESTE MUNDO
SÓ RESTAR RETRATOS AMARELADOS PELO TEMPO,
VÍDEOS PELOS CANTOS ESQUECIDOS.
SAUDADES, SÓ DE VEZ EM QUANDO,
EM ALGUMAS DATAS ESPECIAIS.
QUE TEMPO SERÁ ESSE?
ESPERO QUE O LUGAR DA DESPEDIDA
SEJA PELO MENOS UM LOCAL COM MUITAS LUZES.
UM POETA NÃO PODE VIVER NA ESCURIDÃO.
EU DISSE: VIVER E NÃO MORRER.
UM POETA NUNCA MORRE.

QUE TEMPO SERÁ ESSE?


Um comentário:

  1. Até os poetas morrem, querido Manoel Carlos. Ficam as palavras, mas são outros os que as gozam.

    ResponderExcluir