
Desestrelação (versão)
Num documentário, conta o astrónomo, em cujo nome não reparei (desculpe-me por isso, mas foi só a frase que me prendeu nos ouvidos), que cada átomo que nos forma foi parte antes dalguma estrela.
E eu...
Descontemplo as mãos,
ignoro-me também nos dedos com que já não te escrevo;
e das carícias inexistentes repelo-me, enxoto-me;
enxoto-me também dos cheiros de vocação evocadora que não mais—não mais, não mais, não mais— te conjuram;
desouço a voz rouca e gasta que já nem o teu nome pronuncia;
renego-me nos pés que te não caminham,
vereda,ai vereda,veredinha verde de descobertas por
mim trilhada que foste.
Ou no de dentro mais interno esculco:o coração exaurido;
os pulmões que amarfalhou tanto alento teu ausente neles;
o fígado enorme a rebentar o abdome, intoxicado de mágoas como vermes;
os tristes intestinos inomináveis.
E a luz? Onde a luz?! —grito.
A luz da estrela que fui atomizada, diz-me,ficou presa na noite em que não mais me amaste?
Escreveu Maria
Sun Iou Miou
Obrigada, Manoel Carlos.
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