04/05/2013

CRAVOS E ROSAS

O trem rodava há mais de duas horas.
Desde que partira da estação, que a garota, vendedora de flores, apregoava cravos e rosas. Os cravos a 20 centimos e as rosas a 30 centimos" A princípio minha atenção se prendia ao livro que eu lia. Depois concentrei-me nos movimentos daquela garota, criança ainda, mais candida que as flores que pretendia vender, a avaliar o aspeto lastimoso dos cravos e das rosas que de tanto movimento, solavancos e calor, mais pareciam pequenos animais sonolentos moles, com sede.
A garota desesperava e voltava a gritar: cravos a 20 centimos e rosas a 30 centimos! Mas ninguem queria comprar as flores que continuavam tristes em suas mãos suadas e sujas.
Percorria todas as carruagens em espaços curtos e a sua voz era estridente: cravos a 20 centimos e rosas a 30 centimos!
Não sei quantas vezes passou por mim. Mas esta seria a última.
A lástima bateu à costa da minha sensibilidade e meu espírito não resistiu. Comprei-lhe aquilo que talvez há dois dias teriam sido flores viçosas.
A garota ainda teve o bom senso de me suavizar os impulsos quando falou: -Veja senhor, que perfume ainda exalam!


Manoel Carlos

4 comentários:

  1. Adorei!sou suspeita para dizer alguma coisa,mas palavras para quê?é bom saber k aproveitas bem o teu tempo,a escrita está no sangue!!!continua,também é bom sentir o perfume das tuas palavras!!!!beijo grande.

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  2. mmmmmmm casi noto el aroma desde aquí. Me gusta cómo escribes, Manoel Carlos. Tu historia es entrañable y sensual. Preciosa.

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  3. Tu fazes exalar perfume até de flores mortas, FonFon...
    E isso, querido, chama-se poesia. E poesia é a lente incomparável com que se vê a vida.

    Beijos,
    Rosinha

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  4. As rosas conservam o perfume ainda depois de murchas. É o privilégio delas.

    Belo texto resgatado este, Manoel Carlos.

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