28/04/2015

A GRAVATA - conto infantil.

Eu iniciei a minha missão de pai já tarde. Tinha 44 anos! Levei tempo a me deixar envolver por esse "trabalho" e "preocupação". Mas depois que nasceu o meu primeiro e único filho, a minha vida tomou outra dimensão. Claro que redobraram as preocupações, os trabalhos e as despesas mas, mediante tanta alegria que uma criança suscita, compensa de sobremaneira! A minha mulher, mais jovem do que eu, se tinha assim tanta alegria ou felicidade, não mostrava. E era eu sempre a estar presente nos momentos mais ou menos dificeis: choro durante a noite, mudanças consecutivas das fraldas, mamadeira a hora certa, corridas para o médico caso algum mosquito resolvesse atacar e outras alergias "assustadoras" para os primeiros "navegantes" no assunto. Sem contar essa convivência fabulosa que tive com o meu filho durante seu crescimento vou apenas referir os momentos em que era obrigado a inventar estorinhas onde fossem envolvidos os animais que ele mais gostava. Era já a época em que ele estava descobrindo as cores e a cada passo dizia pai: aquele flor é vermelha! Olhava em redor e perguntava: -Pai não existem flores azuis?
E lá tinha eu que recorrer a arquivos de memória para lhe indicar alguma flor azul.
Bom, numa dessas de inventar estorinhas, um dia estou lhe contando a do gato e do rato. Era assim:
Numa casa grande de uns donos ricos vivia um gato bonito, enorme e bem lá no fundo da sala, na esquininha, havia um buraco bem pequeno que dava para um compartimento onde se instalava uma familia de ratos. O gato era muito severo e estava sempre de guarda, evitando a circulação dos ratos e sua visita à cozinha para se abastecerem com algumas coisas que eventualmente encontrassem por cima dos armários ou mesas que servisse para se alimentarem. Um dia o ratinho mais velho adoeceu e não podia se mover. Aí o rato mais novo, sem prática ainda para a "caça" arriscou ir à cozinha pensando que o gato estava dormindo. E, quando ia a passar pelo bichano, foi agarrado por este que começou a encostar o rato ao focinho e amedrontando-o: agora te peguei, vou-te comer, seu rato ladrão. O ratinho tremendo começou a pedir ao gato que não fizesse isso porque o irmão dele estava doente e precisava de comer. O gato começou a afrouxar as mãos e ratito se mandou a grande velocidade para a toca. A situação para os ratos estava feia. Sem nada para comer, era demais. O rato então vivia espreitando do buraco na esperança que o gato dormisse de novo. Mas quê? Agora o gato começou a brincar com uma gravata do dono, descia, subia a cadeira, pulando e ronronando, deixando o rato muito nervoso. Mas, de repente, numa distração do gato, a gravata se enrolou no pescoço deste que ficou preso à cadeira de tal forma que parecia que ia enforcar-se. Foi então que o rato veio em seu auxílio roendo a gravata e soltando o gato! Aqui sim. O gato também soube reconhecer. Agradeceu ao rato tê-lo salvo e prometeu-lhe nunca mais evitar que ele e seus irmãos circulassem pela casa. Ficando assim amigos para sempre.
Estava contando esta história então para o meu filho que de princípio ao fim prestou a "melhor" das atenções em total silêncio. Perguntei-lhe o que achou da história.  Das crianças podemos esperar as  mais extraordinárias deduções. Vejam a resposta:
- Oh pai, e de que cor era a gravata?


Manoel Carlos




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