"I know not what tomorrow will bring... " ("Eu não sei o que o amanhã trará").
Subindo a Rua do Alecrim, já na entrada para o Largo Luís de Camões, encontrei Fernando Pessoa que vinha em sentido contrário, muito absorto e, não fosse eu gritar-lhe: - olá Fernando, nem sequer teria notado em mim.
Como sempre, ou quase sempre, trajava paletó e calça escuros, camisa branca e um nó de gravata de tamanho excessivo para o colarinho redondo e estreito da camisa. Chapéu original aguçado no topo e seus óculos de lentes grossas que faziam de seu rosto parecer menor. No conjunto, a figura de Fernando Pessoa fazia lembrar um cartuxo, da cintura até o topo do chapéu, quando sentado, dava a impressão de um cone com o bico para cima.
Fomos seguindo, comentando as notícias do dia e sentamo-nos numa esplanada para tomar um café.
O mais engraçado é que eu, na noite anterior, havia lido um trecho filosófico do
Fernando e, olhando agora pessoalmente para ele, não achei nenhuma conexão com o que ele escreveu e com a forma de ele vestir. A não ser, claro, que ele apenas tivesse em conta a parte psicológica deixando de lado, consequentemente, a parte da estética exterior. O que confirmava sua ideia de que se não mudarmos de roupa vez por outra, a roupa toma a forma do nosso corpo….
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
O meu espanto é que vejo sempre o Fernando nos mesmos lugares e, por incrível que pareça, usando sempre a mesma roupa!
Depois deste pensamento ter sido removido da minha cabeça continuamos os dois ali sentados conversando sobre os mais fúteis casos desta Lisboa linda.
Como sempre, ou quase sempre, trajava paletó e calça escuros, camisa branca e um nó de gravata de tamanho excessivo para o colarinho redondo e estreito da camisa. Chapéu original aguçado no topo e seus óculos de lentes grossas que faziam de seu rosto parecer menor. No conjunto, a figura de Fernando Pessoa fazia lembrar um cartuxo, da cintura até o topo do chapéu, quando sentado, dava a impressão de um cone com o bico para cima.
Fomos seguindo, comentando as notícias do dia e sentamo-nos numa esplanada para tomar um café.
O mais engraçado é que eu, na noite anterior, havia lido um trecho filosófico do
Fernando e, olhando agora pessoalmente para ele, não achei nenhuma conexão com o que ele escreveu e com a forma de ele vestir. A não ser, claro, que ele apenas tivesse em conta a parte psicológica deixando de lado, consequentemente, a parte da estética exterior. O que confirmava sua ideia de que se não mudarmos de roupa vez por outra, a roupa toma a forma do nosso corpo….
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
O meu espanto é que vejo sempre o Fernando nos mesmos lugares e, por incrível que pareça, usando sempre a mesma roupa!
Depois deste pensamento ter sido removido da minha cabeça continuamos os dois ali sentados conversando sobre os mais fúteis casos desta Lisboa linda.
Manoel Carlos
Se digo que este é um dos textos mais belos dos que já escreveu seria menosprezar outros, assim não digo nada. Ou disse?
ResponderExcluirE um abraço no dia do Brasil, mesmo que for de longe.