Quando era menino adorava ir com o meu pai brincar para um parque situado a pouca distância da casa onde morávamos. Ali, podia correr, saltar, gritar e até brincar com um cachorro que fazia também do jardim o seu ponto de recreio. Era um cão possivelmente sem dono e sempre que eu chegava ele corria na minha direcção festivo sacudindo a cauda e saltando quase me derrubando. O meu pai, para que eu não me distanciasse escondia-se por detrás de uma árvore qualquer para que eu, ao olhar para trás, não o enxergando, voltasse ao ponto onde ele eventualmente se encontrava. Era assim todos os dias e, por vezes, quando eu não conseguia descobrir a árvore onde ele se escondia, um sentimento inexplicável tomava conta de mim o que me obrigava a gritar chamando por ele. Mas logo ele com seu ar calmo aparecia rindo da minha aflição.
No caminho de regresso a casa ele me acalmava e dizia para eu nunca pensar que alguma vez iria abandonar-me ou ficar longe do lugar onde eu estivesse. Apesar disso, dessa segurança, às vezes quedava-me a imaginar esse abandono... Hoje, um dia de sol radiante, chegamos ao parque e, para minha surpresa, o cachorro não apareceu. Fiquei apreensivo e pedi ao meu pai para perguntar a alguém se tinha visto o cão. Não! Ninguém viu o rafeiro. Com o meu programa alterado fiquei sem saber para que lado do jardim seria melhor brincar. Caminhei distraído, pisando a relva e nem me dei conta quanto tempo fiquei assim absorto. Sobressaltado, olhei para trás procurando o meu pai que, possivelmente estava me vigiando, como sempre, escondido por trás de uma árvore. Voltei correndo circundando todas as árvores e nada de ver o meu pai. Regressei ao ponto de partida, dei voltas e mais voltas. E meu pai não aparecia!
A sensação de pavor era dominante e eu queria não perder a calma. Evitei ainda gritar mas foi por pouco tempo. Desesperadamente corri pelo Parque e meus gritos abafavam qualquer ruído.
O mais estranho é que não se ouvia nada a não ser o som da minha voz chamando pelo meu pai. O Parque estava vazio. La fora não se ouvia o barulho dos automóveis. Corri para a entrada e constatei que, efectivamente, as ruas estavam desertas. Apenas eu. E chamei-o no cúmulo desse desespero de criança abandonada. Acordei com a sua voz calma e confortante repreendendo-me por ter gritado seu nome de forma tão sonora! --------------------------------------------------------------------------------------------- Felizes dos que como eu puderam usufruir de uma infância sob a proteção cuidadosa dos pais, apesar das brigas, evidentes, de ambos; que souberam transmitir-me, de forma clara, a razão das discrepâncias num sentido positivo não deixando afetar-me, nem de longe, por recalques. O único trauma afinal é esta enorme tristeza de mamãe ter partido sem que lhe tivesse podido provar este incomensurável amor.
Oi, e isto como apareceu cá agora? Estás a brincar por trás das árvores?
ResponderExcluirBacana o seu blog! Feliz vc que teve um pai presente.
ResponderExcluirAbs!
Estava eu a “navegar” quando me deparo com este blog. Notei que alguma coisa me era familiar ou que alguma vez já havia passado por cá. Vi minha foto. Assustada procurei melhor e achei uma citação minha. Lembrei: É aquele senhor simpático que da última vez que fui ao consulado respondeu as todas minhas perguntas. Lembrei também que no meu blog eu já tinha me referido ao seu local de trabalho e compartilhado com meus amigos leitores a surpresa de ser reconhecida como a “blogueira” do Diário de Lisboa. Cá estou eu para felicitar este blog! A partir de agora estará entre os meus favoritos!
ResponderExcluirGleiciani Fernandes
Ah... As lembranças que tenho de meu pai... Tantas e tão boas.
ResponderExcluirÉ lógico que "Seu" Brandão não era perfeito, mas foi o pai perfeito para mim.
Qualquer dia, FonFon, qualquer dia eu escrevo sobre meu pai, mas com a tinta da emoção e a pena do coração.
Saudades tuas, FonFon. Enormes. Imensas.
Sabes que és um gajo que eu muuiiito admiro e respeito, não é??
Beijos. Saudosos.