O MENDIGO. Conto de Luciene Amado

Num viaduto do Rio de Janeiro, sentido Avenida Presidente Vargas, por onde eu sempre passava para ir para o trabalho, todos os dias um mendigo eu via. A mão estendida, olhando sempre para o céu. Era uma cena triste, me chamava atenção. Automaticamente meus olhos buscavam aquela figura. O curioso é que por ali não passavam pedestres, somente carros. Para quem estaria o pedinte fazendo sua suplica?

Preocupada com a situação daquele pobre homem, resolvi comprar alguns enlatados, massas e biscoitos, também comprei um bilhete de loteria, cuja extração estava marcada para o dia seguinte, sábado. Ao me aproximar do local onde sempre o encontrava, diminui a marcha e dei sinal de alerta. Parei ao lado dele, abri a porta e lhe entreguei a sacola. Ele ajoelhou-se com o chapéu encostado ao peito, alçou os olhos ao céu e gritou:

- Obrigado, Deus! Eu sabia que por aqui passaria um anjo!

Na segunda-feira, quando fui trabalhar, ele não mais estava no lugar de sempre. A semana se foi e o homem maltrapilho não apareceu. Pensei comigo que talvez ele tivesse se mudado para um lugar melhor.

Nessa mesma semana, quando eu assistia o jornal na tevê, ouvi uma notícia: "Mendigo ganha sozinho a Loteria".

O ganhador quando entrevistado recusou-se a falar. Ajoelhou-se, olhou o céu e falou em voz alta:
-Obrigado, meu Deus! Eu sabia que por ali passaria um anjo!

Eu acordei feliz no outro dia.