OS AMORES DA MINHA VIDA
M.S.
Pediu-me para escrever esta historinha —para lhe poupar lágrimas, disse ele— de quem foi a sua paixão e a sua tristeza, e eu escrevo com as palavras e a alma dele, com os dedos meus tingidos nas águas do mar de Luanda, que são também as nossas águas... Contou com a voz ténue de quem venera os silêncios que aparecera nem sabiadele, à espera, mensageiro triste de novas que ninguém quer dar, mas que no fim foi dizendo: —A Babalú foi atropelada e está gemendo no teu quarto. Não me contou o quanto lhe pesava o coração, convertido em punho que bate no peito na cavidade do remorso que ecoa: “Porquê eu não te levei comigo?”. Não, contou apenas do olhar diferente com que o recebeu, como pegou nela ao colo, como a abraçou com o amor todo —grande como é sempre o amor— que lhe tinha. E ela, que aguentara até esse momento para se despedir, balançou leve a cauda e no esforço deixou desfalecer a cabecinha e escapar um delicado xaxualho de xau-fui no derradeiro alento. como, pequenina ela, na sua vida, caída dum lugar que fica além das lembranças, onde os tentáculos da memória se tornam fios no lusco-fusco. Bem que há donos que escolhem cão e cães que escolhem dono, a Babalú elegeu-o e, de troco, ele adoptou-a, perfilhou-a, para seguir fazendo uma vida a dois; companheiros que se entendem olhos nos olhos e no contacto dum corpo encostado a outro, em harmonia de fábula, como os contos de animais que falam com mais juízo do que as pessoas. Tanto era assim que por vezes ele ficava atento à boca dela, aguardando que exprimisse as coisas lindas que o olhar dela transmitia. Saíam juntos por toda a parte possível. Quando ele ia para o trabalho, ela ficava sossegada a cochilar no banco de trás do carro, a acumular forças para se jogar num pulo ao rosto dele e cobri-lo de beijos, como a criança que se atira aos braços da mãe após uma ausência de minutos que pareceram horas, como a namorada recebe o namorado que chegou de comboio num dia frio de inverno. Nas tertúlias com os amigos, Babalú era uma mais, e quando depois de andar na gandaia, chegava o momento de espairecer a ressaca, deitava-se ao lado dele na praia do Mussulo, sem deixar ninguém aproximar-se, como um anjo sem asas, marcando o limite das confianças. Mas uma noite —sempre há uma noite nos contos que chega funesta, tal como na vida há dias, algum dia, que se perde no calendário— em que não a levou com ele, no regresso a casa, a Dona Sofia, a mãe
He asked me to write this story, to save you tears, he said, who was his passion and his sadness, and I write with words and his soul, with dyed my fingers into the sea of Luanda, which are also our waters ..Had the faint voice of those who revere the silences that appeared did not know how, her little in his life, dropped a place that is beyond the memories, the memory where the tentacles become threads in the twilight. Well there are dog owners who pick and choose which dogs owner, Babalu-elected and, in return, he adopted her, her tiller, to continue making a life together, friends who get along in the eye and the contact a body leaning against each other in harmony of fable, as the tales of animals who speak with more sense than people. . So much so that sometimes he was attentive to her mouth, waiting for the beautiful things that would express her look conveyed. They went everywhere together as possible. When he went to work, she was a quiet nap in the backseat of the car, building up forces to play a leap to his face and covered him with kisses, like the child who throws herself into the arms of his mother after an absence of minutes that seemed like hours as his girlfriend gets a boyfriend who arrived by train on a cold winter day. In social gatherings with friends, Babalu was a more, and when after loaf, it was time to unwind a hangover, he lay beside him on the beach Mussulo, leaving none to approach, as an angel without wings , marking the limit of trusts. But there is always a night-night in an ominous tale that comes as life for days, ever, lost in the calendar, which did not take her with him back home, Dona Sofia, his mother waiting, the messenger of sad news that nobody wants to give, but who ends up by saying:-The Babalu was struck and is groaning in your room. ”. Do not tell me how much you weighed the heart, converted in hand that beats in the chest cavity that echoes of remorse: "Why did not I took it with me?". . No, just tell the different look that was received, and took her in his arms, and embraced with love as big as all-is-always love you had. And she, who had held until that time to say goodbye, shook his tail light and lose heart in the effort to let out a soft little head and "xaxualho" xau- I in the last breath.
M.S.
Saudades...
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