04/07/2015

PARECE MAS NÃO É

DOMINGOS  MINGOS  MINGUITO

...Perguntaram-lhe algo e ele busca no bolso a resposta.
A bicicleta é agora o guarda chuva que teima em não querer abrir.
Mas também não chove...
Na vitrina,  à frente,  o manequim espera curioso!


ELE CORRE DESPREOCUPADO PELA AVENIDA. MENINO AINDA. BARBA CERRADA.
SEGURA NAS MÃOS UM PAU PELAS PONTAS À GUISA DE GUIDÃO E SEGUE CAMINHO NUMA BICICLETA VERDE FEITA DE VENTO E NUVENS. SAI CORRENDO IMITANDO O RUIDO DA CRAMALHEIRA. NA CORRIDA O MUNDO PASSA. AS ARVORES SÃO VULTOS DE OUTROS PLANETAS. A VIAGEM É LONGA E CONTINUA NA SUA MÁQUINA DE VENTO. A VILA VAI FICANDO LONGE. TUDO MUITO DISTANTE EM SONS SUAVES E CORES ESTRANHAS. AS VOZES MISTURADAS À PAISAGEM QUE É DE GIESTAS SECAS, DE MACIEIRAS PARINDO E DOS PINHAIS CURVADOS. CHOVE AGORA. TROVEJA E NA MISTURA DOS TROVÕES UMA VOZ FORTE ESTALANDO. A VOZ DE SEU PAI. TOMARA QUE A TROVOADA AUMENTE! ELE QUER QUE TROVEJE NA PERSPECTIVA DE ABAFAR O BARULHO DOS PENSAMENTOS, DAS RUIDOSAS LEMBRANÇAS. E SEGUE GALGANDO OS PONTOS DISTANTES PARA CHEGAR MAIS ALÉM. AO ENCONTRO. À RESPOSTA. MAS O NADA É NADA E TUDO ESTÁ VAZIO...
SUA BICICLETA AGORA É UM CAVALO E GALOPA. E DE NOVO A BICICLETA DE VENTO, DE NUVENS, DE CHUVA.
LONGE. O MUNDO ALÉM. NAVEGA. SONHA DE NOVO MAS OS OLHOS ESTÃO ABERTOS E A ESTRADA ILUMINADA! O ASFALTO PRATEADO. SEUS OLHOS ESTRELAS. LAMENTOS. A VOZ SUAVE NA BRISA PASSAGEIRA. UM LAMENTO. UMA SÚPLICA.
- VOLTA! NÃO ME ABANDONES!
FOI OUTRORA. MOMENTOS TERRÍVEIS. PESADELOS GIGANTES. EXPECTATIVA DA PARTIDA EM SEUS PULSOS CORTADOS. O APELO DERRADEIRO DAS TREVAS. O CONVITE NEGADO.
-VOLTA MINGUTO!
O SUSSURRO. A FORÇA SEGURANDO-O AINDA À SUA BICICLETA DE VENTO E NUVENS. A SUA BICICLETA VERDE...FEITA DE VENTO E NUVENS...



Manoel Lima
Além do Rio de Janeiro, Morou em Luanda, Berlin, Vigo, Porto, Lisboa
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