Roteiro para uma curta metragem
Quando o casamente ocorre no desabruchar da vida, freiando ou mutilando a necessária liberdade que a juventude precisa para contornar vicissitudes, raro não acontece esse precalço que é o do arrependimento em função do que deixou de ser vivido...
Manoel Carlos
Quando o casamente ocorre no desabruchar da vida, freiando ou mutilando a necessária liberdade que a juventude precisa para contornar vicissitudes, raro não acontece esse precalço que é o do arrependimento em função do que deixou de ser vivido...
Manoel Carlos
Fernando perdera o emprego mas sua situação financeira não estava nenhum caos. No entanto só o facto de estar inactivo causava-lhe uma sensação de desconforto e isso reflectia-se no seu comportamento que passou do estado calmo e feliz a descontroladas atitudes que vinham causando as mais perigosas consequencias no lidar com Raquel, sua esposa.
Aquela harmonia, os momentos naturalmente felizes de um casamento recente, recebeu um grande abalo e as coisas ficaram ou estavam se tornando feias. Como não podia deixar de ser, até no ambito mais íntimo, onde as ausências se pronunciavam. Era já dificil conseguir o que antes era extraordinariamente excitante, mas ela sempre o animava. Era por causa da crise profissional. Ele tinha que superar tudo isso e logo logo tudo voltaria à normalidade.
Fernando que não era ciumento, de um momento para o outro, deixou-se abalar por crises mesquinhas desse sentimento e Raquel não podia ter um gesto menos conhecido que ele imaginava coisas...o pior...
No final de cada desistência por falta de atribuições ...ficavam os dois sentados na cama tentando uma solução para aquilo que era o mais importante no seu relacionamento.
Decidiu consultar um especialista que foi categórico, animando-o. Pois a crise de ordem psicológica seria a curto prazo ultrapassada. Não havia razão para se deixar abater.
Nesse dia resolveu acordar cedo. Preparou-se e saiu para a rua. O dia estava colorido por um Sol espetacularmente dourado que animava Lisboa.
Passou pelo armeiro onde a semana passada havia deixado para limpeza uma pistola 6,35, niquelada com a coronha de madrepérola. Essa arma representava para ele uma carinhosa recordação de sua tia Aninhas que fora esposa de um fazendeiro no Brasil e lá, como precaução, ela usava aquela pistola na sua bolsa.
Quando chegou a Portugal ofereceu-a a Fernando como objecto de decoração.
Saiu do armeiro com a arma no bolso e percorreu a rua da Prata, foi à Praça da Figueira e depois subiu até o Chiado e ali, numa esplanada, resolveu sentar-se a desfrutar o ambiente tomando o seu café.
Estava absorto nos mais confusos pensamentos. Olhou em frente. Ficou desnorteado com o que viu. Do outro lado da rua, Raquel caminhava apressada. Trajava um vestido claro que ele sempre elogiava e fazia sentí-la mais atraente.
Ainda esboçou um gesto para chamá-la mas deixou-se sentado como se a carga de deduções que repentinamente lhe ocorreram pesasse ao ponto de o deixar sem forças para se erguer da cadeira.
Ele sabia que Raquel nesse dia não ia saír de casa. Ela havia falado que ficaria tratando de pôr certas coisas em ordem e não sairia nem mesmo para almoçar num restaurante qualquer como ele havia sugerido!
Pagou o café e resolveu segui-la sem ser visto. Já agora queria certificar-se das atitudes de sua mulher. Onde ela estava indo com tanto entusiasmo e elegancia!
Ia descendo a Rua do Alecrim e, a uns 50 metros, ele a seguia com o coração acelerado e dúvidas transbordando.
Ela entrou num prédio. Ele deixou-a tomar o elevador e foi pelas escadas. Sentiu o elevador chegar ao terceiro andar e ela tomou o corredor comprido parando na porta do apartamento do qual tinha a chave. Ele nem queria acreditar! Aquilo não podia estar acontecendo. A loucura estava perto e no bolso a arma o inquietava.
Ficou parado no corredor e seu estado o levava a sentir-se flutuando entre nuvens de fogo.
Parou frente à porta do apartamento. Tremia. Sentiu ainda como se um braço muito forte lhe segurasse a garganta querendo evitar a sua fúria.
Deu um pontapé na porta. Entrou e, numa cama larga, viu o imaginado. Raquel e o outro nus na cama no envolvimento "fatal"!
Sacou rapidamente a arma. Disparou todas as balas e saiu correndo descendo o prédio.
Ninguem se apercebeu do sucedido. Naquela hora Lisboa está na rua ou no trabalho.
Foi fácil chegar até à beira do cais mas impossivel acalmar sua emoção.
Junto ao rio, no paredão, era ele sozinho que caminhava.
Olhou ao redor e num impulso forte arremessou a arma para o Tejo.
-Fernando, Fernando!
Era a voz de Raquel que o acordava trazendo-lhe o café da manhã e o jornal, chamando-lhe a atenção para a noticia em destaque na primeira página:
"CRIME NA RUA DO ALECRIM!. CASAL BALEADO NA SUA PROPRIA CAMA.
A POLICIA TEM JÁ UMA PISTA DO ASSASSINO!"
.
Manoel Carlos
Hm, vou matutar nisto, `_^, mas o reto está complicado mesmo.
ResponderExcluirCaro LImiano,
ResponderExcluirPena que o meu amigo seja muito apressado nas suas narrativas. Parece querer chegar ao fim dum fôlego só - o que tira cor e sensação na história. Depois a meio, quando o Fernando dá um pontapé na porta,parece haver ali algo que não se encaixa,na atitude do casal...ao ser surpreendido...
O resto tá bom!
Abraços
Prezado anônimo,
ResponderExcluirA linguagem para Blog terá que ser assim. Rápida, condensada, pequena. Ninguem mais tem tempo para ler grandes episódios. NO meio da história quando o Fernando deu o pontapé na porta, claro que a atitude do casal ao ser surpreendido pelo barulho reagiria de espanto e estaria de frente para o agressor que, ao ver ali sua esposa, de frente, nunca dispararia à queima-roupa. Mas, veja bem, o conto é tecido mediante a imaginação do Fernando apenas, ou sonho!!! Como o final assim o indica.
Obrigadio por ter comentado
Um abraço do
Manoel Carlos
Querida Maria,
ResponderExcluirViste? O Fernando estava manejado pelo ciume. E teve um sonho. Na altura em que escrevi o conto, ainda não havia viagra.
Mesmo assim...
Beijo
Manoel Carlos
Querida Maria,
ResponderExcluirViste? O Fernando estava manejado pelo ciume. E teve um sonho. Na altura em que escrevi o conto, ainda não havia viagra.
Mesmo assim...
Beijo
Manoel Carlos