Eram dez horas da manhã, domingo, e a campainha da porta tocou cinco vezes.
Valdemar, sonolento, pensou outras tantas, se haveria de abrir ou continuar no fresquinho de ar condicionado do seu quarto. À sexta vez, lá se resolveu e gritou: - Já vou!
Levantou-se mal humorado insultando o céu e a terra.
Ao espreitar pelo olho mágico da porta, sentiu um choque. Eram fantasmas! Para mal do seu hábito de rezar. E gritou:
-Graciiinnnnda! – É a tua irmã, o teu cunhado Rogério e os miudos!
Gracinda, morta de sono, borracheira de vinho verde tinto na véspera, levantou-se e cambaleando, foi para a casa de banho, encarecendo:
-Atende Valdemar, enquanto dou uma arrumadela na minha cara e…no resto…
Valdemar abriu a porta e mudando como da noite para o dia foi dizendo com um sorriso amarelo:
-Olá minha boa gente. Sejam bem vindos a esta vossa casa!
O mau hálito estava carregado de falsidade.
O cunhado Rogério entrou primeiro e foi logo segredando ao ouvido de Valdemar: - as calças do teu pijama tem a “porta” escancarada. Dá um jeito que as crianças estão a ver tudo…
Valdemar, virando-se de costas. – Sim, sim, mas como ia a dizer…fiquem à vontade que eu vou vestir um calção. Vamos todos para a praia?
E a criançada logo em uníssono: - Isso, isso, vamos!
Mas Rogério estava demorando a entrar completamente para a sala. Havia qualquer coisa a impedir seus gestos…Então, como Valdemar insistia para que entrasse de vez, explicou que estava esperando a Noémia, criada que recentemente tinha contratado e que mandara ao supermercado comprar artigos para o almoço de todos.
No quarto de banho Valdemar e Gracinda, rindo: - Será que isto é sonho, não vou precisar de estragar as minhas unhas na cozinha? -Que bom, pensei que ia entrar com a “massa” para dar de comer a essa malta toda!
Já de regresso à sala, Noémia, a criada, entrava carregada de sacos de plástico. Era uma criada e tanto. Mulherão de se tirar o chapéu. Corpo certinho. Na pauta exacta. Roupa fina colada ao corpo revelando os elásticos das peças interiores e seu rebolado rebolava já os olhos de Valdemar que, no mesmo instante, teve uma ideia que achou fabulosa e pôs em prática: correu para a cozinha e com uma pastilha elástica vedou o tubo do gás do fogão e voltou rápido para a sala sugerindo em voz alta: - Então gente, que tal irmos já para a praia?
Estavam já quase de saída, quando a Noémia, a criada, anunciou da porta da cozinha:
-gente, meus senhores e minhas senhoras, o fogão está entupido, não sai gás!
O golpe de Valdemar estava surtindo efeito e, imediatamente, quase arrastou a esposa, e o resto da família para o elevador:
-Vão indo à frente que eu fico para consertar o fogão e já vou ter com vocês à praia.
E voou cheio de gás para a cozinha…
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQuis dizer:
ResponderExcluirAfinal o Valdemar desentupiu o fogão?
Um dia fazes-me chorar, outro rir. Está hoje um belo dia de sol lá fora cá.
Beijinho