De tantas coisas, tantas histórias, tantos casos, ocorrências, imagens que o nosso cérebro arquiva, é possível que em algumas circunstâncias possamos, quando escrevemos ou até falamos, tornarmo-nos susceptíveis ao plágio. Não estou dizendo nenhuma mentira. Existe sim essa possibilidade tanto no campo literário quanto no setor musical. Quantas vezes nós deparamos com semelhanças de uma música com outra ou de um romance com outro?
Se alguem já leu dois escritores famosos um de lingua portuguesa e outro da lingua inglesa que são, respectivamente, Erico Veríssimo e John Steinbeck, fácil poderá convir que entre eles existe nem que seja indelevelmente, uma certa harmonia, um diapasão. E isso tem uma forte razão de ser. É que Erico Verissimo foi o tradutor oficial para a lingua portuguesa no Brasil, daquele escritor norte-americano. E outros casos mais flagrantes que eu não tenho provas disso e peço a Deus que seja mentira. Fernando Pessoa, nem acredito mesmo!
Esta referência pseudo-didática, somente para contar uma historinha que não sei onde li, quem contou, nem onde aconteceu.
Vou assim narrá-la como se fosse inventada agora. Sem os suficientes elementos materiais ou humanos que a completariam.
Por ser curta, para não encher a paciência de vocês, aqui vai.
ERAM DOIS PAÍSES VIZINHOS. E, COMO "BONS" VIZINHOS, TINHAM A SUA DIVISA, A SUA FRONTEIRA A SEPARÁ-LOS . DE UM LADO, ERA A MISÉRIA. DO OUTRO LADO, MAIS MISÉRIA AINDA.
NÃO EXISTIA PROIBIÇÃO À CIRCULAÇÃO DOS CIDADÃOS EM QUALQUER OU PARA QUALQUER DESSES DOIS PAÍSES. APENAS A IMPLACÁVEL INTERDIÇÃO A QUALQUER TIPO DE CONTRABANDO. APENAS ERA LIVRE, O QUE NÃO ERA MAU, A CIRCULAÇÃO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS ESSENCIAIS, QUASE INEXISTENTES! O QUE ERA MAU!
OS AUTOMÓVEIS ERAM MINUCIOSAMENTE REVISTADOS, CONTROLADOS. AS PESSOAS, NEM TANTO.
ENTRE A GENTE QUE DIARAMENTE ATRAVESSAVA PARA O LADO DO PAÍS MAIS CARENTE SE INCLUÍ O ISAAC. MOÇO JOVEM, AR DISTRAÍDO, ROUPA EM DESALINHO A INCIDIR PARA O SUJO. ISAAC TRANSITAVA SEMPRE EM SUA BICICLETA IMPECÁVEL ONDE LEVAVA, NO QUADRO, ENTRE SUAS
PERNAS, UM SACO DE PANO ESCURO.
E FOI ASSIM POR MUITAS VEZES. ATÉ O DIA EM QUE O GUARDA DE SERVIÇO, INTERCEPTANDO-O, FEZ COM QUE ISAAC SENTISSE A IMPRESSÃO DE QUE IA MIJAR NAS CALÇAS, QUANDO LHE ORDENOU QUE ABRISSE O SACO. DITO E FEITO OU MELHOR, CUMPRAM-SE AS ORDENS. ISAAC APEOU-SE DO VELOCÍPIDE E ABRIU O DITO CUJO SACO. ESPANTO DO GUARDA QUANDO VIU QUE O SACO APENAS CONTINHA TERRA AVERMELHADA! - QUE É ISTO?
PERGUNTOU SURPRESO O GUARDA.
BOM, NÃO SE SABE SE ISAAC JÁ TINHA A RESPOSTA ESTUDADA OU NÃO. RESPONDEU NUM MISTO DE NERVOSISMO E UMA VONTADE ENORME DE FAZER XIXI:- SENHOR GUARDA, ISTO É BARRO. BARRO VERMELHO ESPECIAL PARA UNS AMIGOS OLEIROS QUE FAZEM POTES DESSE BARRO. E VOCÊS AÍ NÃO TEM DESTE TIPO DE BARRO.
O GUARDA, PERANTE TÃO ABSURDO TRABALHO DE CARREGAR TERRA OU BARRO OU QUE PORCARIA FOSSE E COMO AQUILO NÃO CONSTITUIA NENHUM PERIGO DE SANIDADE NEM MELINDRAVA QUALQUER CLAUSULA LEGAL DA ADUANA, "FECHOU OS OLHOS" PERANTE A INSIGNIFICÂNCIA!
ISAAC, PARA NÃO DAR MUITO NAS VISTAS, "PARA NÃO DAR BANDEIRA" ETA QUE BRASILEIRO GOSTA DO TERMO. DIZIA EU, ISAAC FEZ UM INTERVALO DE ALGUNS DIAS NAS SUAS "INCURÇÕES" OU "EXCURÇÕES". VOLTANDO AO MESMO RÍTMO ALGUM TEMPO DEPOIS.
VOCÊS ACREDITAM NA HISTÓRIA DO ISAAC? ACHAM MESMO QUE ELE VIAJAVA DE BICICLETA DIARIAMENTE ALGUNS QUILOMETROS SÓ PARA TRANSPORTAR UM SACO DE BARRO PARA OS AMIGOS FAZEREM POTES? POIS, POTES QUE O PARIU!
CLARO QUE NÃO.
NA VERDADE O ISAAC VIAJAVA TODOS OS DIAS
MAS A BICICLETA NUNCA ERA A MESMA...
texto de Manoel Carlos
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